domingo, 21 de maio de 2017

Dono da JBS diz que tratava de propina com Temer desde 2010



Joesley Batista falou dentro de acordo de delação premiada assinado com o Ministério Público Federal. Planalto afirmou que todas as doações de campanha a Temer foram oficiais.












Delatores da JBS contam que Michel Temer recebeu propina



O empresário Joesley Batista contou nos depoimentos que conheceu o presidente Michel Temer em 2010. Que foi apresentado por Wagner Rossi, ex-deputado federal pelo PMDB que, na época, era ministro da Agricultura.


A partir dalí, eles passaram a se falar com regularidade. Joesley conta que "esteve com Temer em várias ocasiões: não menos que 20 vezes, de acordo com o empresário, ora no escritório dele, ora no escritório do advogado, ora na casa de Temer em São Paulo ou ainda no Palácio do Jaburu".


Segundo Joesley, desde o começo da relação com Temer, se falou em propina. Quando Wagner Rossi deixou de ser ministro, por exemplo, Joesley disse que Temer pediu que pagasse um mensalinho de R$ 100 mil a Wagner Rossi. Joesley disse que concordou e determinou o pagamento - que foi feito dissimuladamente por cerca de um ano.




Em 2010, Temer ainda teria feito um pedido a Joesley de R$ 3 milhões. Desse valor, R$ 1 milhão foi pago, de acordo com esta planilha entregue por Joesley aos procuradores, por doação oficial e os outros R$ 2 milhões, via caixa dois, para uma empresa privada.


Com o passar do tempo, surgiram outros pedidos, segundo os relatos de Joesley e de outros executivos da empresa.


Em 2012, de acordo com os delatores, Temer pediu R$ 3 milhões para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de são Paulo.


Nessa planilha, que tem uma anotação "PMDB-Chalita", apresentada ao Ministério Público Federal, estão listados pagamentos que teriam sido feitos via caixa dois em agosto, setembro e outubro daquele ano.


Segundo Joesley, depois de 2012, a relação com Michel Temer se intensificou.


E pouco antes de assumir a presidência da República, no curso do processo de impeachment de Dilma Rousseff, Temer procurou Joesley e pediu propina de R$ 300 mil para pagar despesas de marketing político pela internet, porque estava sendo duramente atacado no ambiente virtual.



Joesley prometeu o dinheiro e Temer teria orientado o empresário a repassá-lo para um marqueteiro de confiança. Joesley disse que chamou o marqueteiro na casa dele e entregou os R$ 300 mil em espécie.


Outros delatores da empresa de Joesley também contaram episódios de pagamentos de propina a Michel Temer e a aliados do presidente. Segundo os depoimentos, os pedidos - acertados com Joesley - geraram pagamentos inclusive durante a última campanha presidencial.


Segundo o executivo da J&F Ricardo Saud, em 2014, houve uma briga por propina dentro do PMDB. Isso porque o PT pediu que a JBS repassasse R$ 35 milhões para os senadores do PMDB, mas Temer não foi avisado disso. Joesley então mandou que Ricardo Saud fosse falar com Temer para informa-lo.


- Aí o Joesley me entregou esse bilhete em um sábado à tarde, falou: ‘Ricardo, vamos fazer o seguinte: isso aqui não tá passando por ninguém, pega esse bilhete, vai lá e conversa isso daqui com o Temer. Vê se ele tá sabendo disso, como que é, pra gente saber e tal. Isso foi feito. Eu fui lá no Temer, tava acontecendo esse jogo da Holanda alí na praça, perto da Praça Panamericana alí, e aí ele ficou muito indignado.


Temer se articulou politicamente e, segundo os delatores, o PT acabou mandando repassar R$ 15 milhões para a campanha de Temer. Segundo Ricardo Saud, o dinheiro saiu da "conta corrente" da JBS com o PT. E, desses R$ 15 milhões, segundo Joesley, Temer ficou com R$ 1 milhão só para ele.


- O Temer me deu um papelzinho e falou: "olha Ricardo, tem R$ 1 milhão que eu quero que você entregue em dinheiro nesse endereço aqui". Me deu o endereço. Na porta do escritório dele, na calçada, só eu e ele na rua...


- Na Praça Panamericana?


- Na praça Panamericana. Eu peguei e mandei o Florisvaldo lá. Falei: "vai lá saber o que que é isso". E lá funciona uma empresa que já foi investigada na Lava Jato, que é a tal de Argeplan.


- Argeplan Arquitetura e Engenharia?


- Exatamente essa empresa. O Florisvaldo foi lá fazer uma sondagem que eu pedi pra ele pra saber o que que era lá e quem recebeu ele lá foi o João Batista Lima e Filho. Eu acho que é o vulgo coronel Lima parece, que foi um cara que substituiu o Michel Temer quando ele era secretário de Segurança Pública de São Paulo.


- É um coronel da PM?


- É um coronel da PM e tal. Ele é um coronel da PM, até tratou muito mal o Florisvaldo. E voltou e falou: o que que tá acontecendo? Eu peguei e falei: "não Florisvaldo, esse dinheiro é do Michel, pode deixar que eu vou resolver isso, tá demorando demais e agora mesmo que eu vou te tirar desse negócio". Aí ele falou assim pra esse coronel: "vou voltar tal dia". Ele disse "não, não, não, tal dia não. Você vai vim cá depois de dois, três dias que eu não vou estar aqui. Só eu ponho a mão nesse dinheiro". Aí foi feito, aí o Florisvaldo voltou lá, já com o dinheiro, nesse mesmo endereço, falou com essa mesma pessoa...


- É o coronel Lima?


- Isso, é o coronel Lima. Aí falou com essa pessoa e entregou o dinheiro. Isso me chamou muita atenção na campanha toda porque eu já vi o cara pegar o Dinheiro pra campanha e gastar na campanha, né? Agora, o cara ganhar um dinheiro do PT e guardar no bolso dele é muito difícil, só ele e o Kassab fizeram isso. Só o Temer e o Kassab guardaram o dinheiro pra eles gastarem de outra forma.


O coronel Lima citado na conversa foi alvo de busca e apreensão na Operação Patmos, na quinta-feira, a nova fase da Lava Jato deflagrada a partir da delação da JBS.


A assessoria de Gilberto Kassab disse que ele nunca recebeu de empresas recursos pessoais.


O Palácio do Planalto afirmou que todas as receitas de campanha do presidente Michel Temer foram oficiais.


Wagner Rossi disse que o texto da delação não diz que ele participou de reunião para tratar de qualquer ilícito. E que depois que ele saiu do ministério da Agricultura e cumpriu a quarentena que a lei exige, ele prestou uma colaboração remunerada a uma das empresas do grupo JBS por alguns meses.







O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa da empresas Argeplan, com o coronel Lima ou com Gabriel Chalita.

Fonte: G1

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