segunda-feira, 9 de abril de 2018

Operação resgata dois adolescentes de trabalho escravo no sul da Bahia


Foto: Divulgação


Uma operação resgatou dois adolescentes, de 16 e 17 anos, em uma fazenda localizada em Santa Cruz de Cabrália, no sul da Bahia. A operação foi realizada no início de março e mantida em sigilo. O caso é acompanhado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pelo Ministério do Trabalho. A operação contou com apoio da Polícia Rodoviária Federal. Na última quinta-feira (5), foi realizada uma audiência extrajudicial para propor pagamento das rescisões e multas, mas não houve acordo. O MPT vai mover uma ação na Justiça do Trabalho e encaminhar uma queixa crime ao Ministério Público Federal (MPF) contra o proprietário. Segundo o procurador do MPT Italvar Medina, que acompanhou a inspeção, a equipe encontrou na Fazenda Tucum condições de vida altamente degradantes. “A casa fornecida pelo proprietário não tinha água encanada, nem eletricidade. Os meninos bebiam água do mesmo rio usado pelos animais e que era armazenada em pote de lubrificante, satisfaziam as necessidades fisiológicas no mato, dormiam sobre colchões colocados diretamente sobre o chão e sem roupas de cama apropriadas. Não havia sequer local adequado para guarda de roupas pessoais, nem de alimentos, de modo que carnes estavam penduradas com pregos nas paredes e expostas aos insetos”, conta o procurador. A procuradora Geisekelly Marques, responsável pelo inquérito aberto no MPT para apurar o caso, afirmou que “a situação encontrada na Fazenda Tucum seria lamentável para qualquer trabalhador, mas o fato de as vítimas serem adolescentes torna os fatos ainda mais graves. Eles estavam submetidos a uma das piores formas de trabalho infantil, que o Brasil se comprometeu a banir perante a comunidade internacional”. De acordo com auditora-fiscal Lidiane Barros, “os adolescentes possuíam inúmeras marcas de arranhões, quedas e cortes decorrentes arame farpado e espinhos, supostamente pelo desempenho das atividades profissionais na fazenda. O empregador irá responder pelas infrações administrativas decorrentes da ação do Ministério do Trabalho e, posteriormente, um relatório de fiscalização será encaminhado para os demais órgãos, para que eles possam dar prosseguimento à persecução penal”. Mesmo após ser notificado, o proprietário da fazenda, Henrique Rubim, negou-se a assinar as carteiras de trabalho e a pagar as verbas rescisórias e os danos morais aos dois jovens. O caso evidencia o ciclo de pobreza que o trabalho infantil perpetua. O pai dos adolescentes também passou por situação semelhante, na mesma empresa e disse que, apesar de ser difícil, era a única saída para a pobreza e a fome total. Ele relatou que o dono da fazenda havia prometido pagar R$680por mês, mas o valor nunca foi pago. “Ele me pagava com uma cesta básica que nem chegava ao fim do mês. A carne que ele mandava era dura e precisava ser pendurada ao sol, pois não havia local para armazenamento”, contou. Ele ainda disse que, apesar das condições ruins de trabalho, permanecia no local por medo de passar fome. Os adolescentes relataram que foram com o pai para a fazenda com menos de dez anos de idade. Eles abandonaram os estudos. Na fazenda, eles eram responsáveis por aplicar remédios para matar carrapatos do gado, cuidar das cercas quebradas. Eles passavam mal ao aplicar a medicação nos animais.

Fonte: Bahia noticias

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