A musicista Yasmine El Baramawy, 30 anos, protestava na icônica praça Tahrir em novembro passado quando, arrastada por uma multidão de homens, foi estuprada repetidas vezes.
À Folha ela diz que aterrorizar uma mulher de maneira que ela deixe de se manifestar é, também, uma forma de desrespeitá-la.
No último domingo (9), Baramawy voltou à praça, escoltada por amigos. “Aprendi a ir em grupos”.
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Violência
Yasmine conta que estava na praça Tahrir em 23 de novembro, em um grande protesto contra a declaração constitucional de Mohammed Mursi. Ela ficou perto dos confrontos com as forças de segurança. ”Naquele dia, todos estávamos unidos contra a Irmandade Muçulmana”, conta.
Quando começou a escurecer, ela disse que um homem a agarrou e começou a puxá-la dizendo que a estava “protegendo de algo que não estava ali”. “No começo, eram 15 homens. Então eles se tornaram uma multidão. Era imenso”.
“Muitos manifestantes lutaram por mim ali, mas não era o suficiente. Os estupradores eram muitos, e eles tinham armas. Os ativistas em Tahrir não estão preparados para isso, eles não são membros de gangues ou nada assim”, disse.
Humilhação
“Eles me estupraram de diversas maneiras com as mãos. Não com o pênis. Um homem veio por trás e me estuprou com um canivete. Uma outra mulher teve a vagina e o ânus abertos com uma faca, foi muito pior”, relata.
Segundo Yasmine, a violência não é apenas sexual, mas também crimes violentos.
“Eles abusaram de mim na Tahrir e então me levaram a um canto próximo da praça. Continuaram. Fui arrastada a outra rua, depois mais adiante, então me puseram em cima de um carro e seguiram me estuprando”.
Ainda não satisfeitos, os criminosos colocaram um capuz na vítima e a levaram para uma região distante. “Lá, alguns moradores perceberam o que estava acontecendo e lutaram por mim. Consegui ser resgatada”.
Yasmine revela que nunca tinha ouvido falar sobre esse tipo de violência no Egito. “Eu ainda vejo cenas daquele dia. Às vezes, sinto o estupro no meu corpo. (…) Fico irritadiça. Tenho alguma coisa dentro de mim e preciso gritar de repente”.
Ela conta que no Egito há um grande desrespeito pela mulher, principalmente por parte dos mais velhos. “A maior parte das pessoas pensa que as mulheres são escravas, que são coisas que eles podem comprar”.
Marcas profundas
O estupro deixa um estigma na mulher e silencia a família, não só no Egito, mas isso no mundo todo. “Mas, depois que comecei a falar sobre isso, e outras mulheres também, ficou mais fácil de lidar. Tenho, além disso, o apoio dos meus amigos. Muitas pessoas agem como se nada tivesse acontecido, porém”.
Para Yasmine é um desrespeito, também, quando, de alguma maneira, uma mulher é impedida de participar das manifestações por ter medo de estar ali. “Eu nunca me arrependi de ter ido à praça Tahrir. Eu me juntei à revolução, naqueles dias. Essa era a coisa certa a ser feita. Não penso nisso”.
“Aprendi, agora, a ir em grupos. Naquele dia, estava com outra amiga, que também foi estuprada quando nos separaram. Hoje, meus amigos vão me levar para o protesto. Estou esperando por eles”.
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Fonte: Folha
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