Além da subida pela mata da Serra da Piedade, em Caeté, na região Central do Estado, os católicos enfrentaram também uma sensação térmica abaixo dos cinco graus durante a Via Sacra
Fiéis percorrem 6km e acompanham encenação da 'Paixão de Cristo'
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Os sons da matraca, o cheiro do defumador e as luzes das velas anunciavam aos moradores de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, o início das celebrações da sexta-feira da paixão. Pontualmente, às 4h a procissão do Nossa Senhora das Dores cortou a arquitetura barroca dos casarões e igrejas do centro histórico da cidade e manteve a tradição católica de renovar a fé na ressurreição por meio de um dia de sacrifícios e reflexão. No município vizinho, o cenário para a fé foi a mata da Serra da Piedade, em Caeté, onde os fiéis enfrentaram os 6Km de subida, neblina e uma sensação térmica abaixo dos cinco graus para acompanhar a representação da Via Sacra de Cristo.
O aposentado José Custódio, 72, ignorou a fraqueza nas pernas, vestiu sua melhor roupa e madrugou para enfrentar o morro da Santa Cruz, em Sabará. Ele conta que todo ano faz o percurso e se orgulha da tradição já estar no costume da terceira geração da família. “Eu faço questão de estar aqui, é a data mais importante do ano para nós cristãos e a forma que temos para demonstrar nossa gratidão e reforçar nossa fé para enfrentar os desafios”, contou Custódio que estava acompanhado da filha de 34 anos e o neto de 13 que seguiam as matracas, uma tradição da procissão na cidade que sobrevive desde o século XVIII.
Na frente da procissão, a imagem da Nossa Senhora das Dores era carregada por fiéis. Centenas de pessoas seguiam alternando cantos e rezas. Pelo quarto ano seguido, a Capela de Bom Jesus não pode ser o destino final da Via Sacra, pois está com as estruturas abaladas e necessita de reforma. Em função dessa interdição, a procissão teve que retornar para o ponto de partida, na Igreja de São Francisco.
No Santuário Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, fiéis de várias cidades vieram em peregrinação para participar das celebrações da sexta-feira da paixão. Welberth Júnior, 21, e mais dois amigos saíram de Venda Nova, em Belo Horizonte, às 21h de quinta-feira. Depois de 11 horas caminhando eles chegaram até o Santuário. Para Júnior, a compreensão de ressurreição é muito mais do que um simbolismo. Ele fraturou a terceira vértebra da coluna em uma tentativa de suicídio. Chegou a perder temporariamente os movimentos da perna. Hoje, recuperado da lesão e da depressão ele dedicou o dia para demonstrar em sacrifício a gratidão por ter retomado às rédeas do seu destino. “Eu vive uma ressurreição em vida. Toda essa caminhada madrugada a dentro é a forma de entregar a minha gratidão a Deus. Depois de tudo que passei, eu estou aqui porque eu percebi que não precisamos de muito para sermos felizes quando temos fé. O recado que eu deixo para as pessoas para elas nunca desistirem de si e busquem a felicidade nas coisas mias simples”, contou com lágrimas nos olhos e os pés descalços.
Na Via Sacra da Serra da Piedade, atores representaram cada uma das 14 estações da Via Sacra , da condenação até o sepultamento de Jesus Cristo. O frio e neblina que chegavam a forma gelo em roubas e cabelos dos fiéis, deixavam o caminho íngreme ainda mais desafiante.
O Bispo Auxiliar da Arquidiocese Metropolitana de Belo Horizonte, Dom João Justino, destacou que a celebração é mais importante do calendário católico. “Sexta-feira da paixão é o dia marcado pelo recolhimento para meditar sobre esse mistério, de um Deus que se fez homem e que traz a boa nova da Salvação, mas que é condenado a morte. A morte de Jesus tem um significado muito importante, que é ele ter assumido aquilo que é mais pesado para humanidade. No entanto Jesus passou pela Morte e a venceu por dentro. Isso é não a evitou, mas a abraçou e passando pela morte alcançou a ressurreição, mostrando assim que a morte não é a palavra definitiva, mas ressurreição”
Dom João Justino ainda chamou atenção para o momento político vivido pelo Brasil, chamou os fiéis a tomarem conhecimento e se posicionarem. “A Igreja tem insistido que nós precisamos participar. Participar no sentido de tomarmos conhecimento dos fatos, formularmos um juízos tendo como à luz para esse entendimento a doutrina social da Igreja. Nós não podemos entrar para a histórica como entrou Pilatos que lavou as mãos. Nós temos responsabilidade, precisamos criar espaços de debate para tomarmos uma posição”, finalizou.
Fonte: o tempo
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