terça-feira, 3 de junho de 2014

Igrejas são demolidas em nova onda de perseguição a cristãos na China



O governo chinês justifica as demolições dizendo que os prédios tinham irregularidades nas construções

Recentes casos de demolição de igrejas e destruição de estátuas que evocavam passagens da vida de Cristo reacenderam o alerta contra a perseguição a cristãos na China. A cidade de Wenzhou, na província de Zhejiang, costa leste do país, é conhecida como ‘Jerusalém da China’, e tem sido o foco das ações. No entanto, cristãos temem que uma campanha nacional esteja sendo preparada, em uma tentativa de barrar o crescimento do cristianismo no país.

“Ainda não está claro se isso é o início de uma campanha mais ampla contra o cristianismo. No entanto, o que aconteceu em Zhejiang deve ter ao menos a aprovação tácita do governo central”, acredita Fenggang Yang, diretor do Centro de Religião e Sociedade Chinesa da Universidade Purdue. “Nos últimos anos, as autoridades comunistas ficaram mais assustadas com o rápido crescimento do cristianismo”.


O professor Yang, autor de Religião na China: Sobrevivência e Ressurgimento sob o Domínio Comunista’, afirma que o crescimento do cristianismo foi rápido nas últimas três décadas, com média de 10% ao ano desde 1980. O número de católicos desde então passou de 3 milhões para 9 a 12 milhões em 2010, enquanto o número de protestantes saltou de 3 milhões para ao menos 58 milhões em 2010, ou 4,3% da população chinesa, segundo o Pew Research Center.

O instituto ressalta que saber com precisão quantos cristãos há na China é tarefa dificultada pelo fato de que muitos frequentam igrejas clandestinas. Por outro lado, acrescenta que até pouco tempo atrás, poucos pesquisadores sabiam se a religião havia sobrevivido à Revolução Cultural desencadeada por Mao Tsé-tung nos anos 60. Agora sabe-se que milhões de chineses têm alguma fé religiosa.

“Nos últimos trinta anos, a sociedade chinesa tem vivenciado um momento de abertura e o governo se deu conta de que teria de tolerar, até certo ponto, a liberdade dos indivíduos”, pontua Feng Wang, professor de sociologia da Universidade de Michigan especializado em China. Essa abertura – iniciada por Deng Xiaoping no final de década de 1970 e ao longo dos nos anos 1980 – propiciou o uso limitado da internet e o abandono do marxismo como ideologia oficial, por exemplo. “Nesse contexto, muitas pessoas na sociedade chinesa decidiram buscar uma zona de conforto espiritual (…) O governo tem consciência que não pode suprimir esse desejo. Contudo, o que o governo não entende, não autoriza e, mais ainda, teme é a criação de organizações religiosas”.

Numa democracia funcional, as religiões também têm um papel de coesão social e são regidas por instituições estruturadas que podem, eventualmente, se contrapor aos governos e criticar os governantes. E isso é tudo que Pequim não deseja. “O Partido Comunista não pode tolerar qualquer outra organização que não seja a do próprio partido. Admitem a prática religiosa, desde que esteja, de alguma forma, atrelada ao Estado. Tanto que a China não reconhece o Vaticano. E, inclusive, é o próprio partido que determina quem serão os bispos e padres”, lembra Wang.

A Associação Católica Patriótica Chinesa, versão da Igreja que segue os preceitos do Partido Comunista, sempre viveu em conflito com o Vaticano, que não reconhece os padres e bispos nomeados pela associação. A Constituição de 1982 permite o culto a cinco religiões, mas proíbe qualquer influência estrangeira.

No caso das recentes ações em Zhejiang, o professor Fenggang Yang aponta uma motivação política para as medidas extremas destinadas a controlar o crescimento do cristianismo: a ânsia dos líderes provinciais em impressionar o presidente Xi Jinping e, desta forma, subir na hierarquia comunista.

O governo chinês tenta justificar a recente onda de demolições – que já deixou ao menos seis locais de culto completa ou parcialmente demolidos, segundo o jornal britânico Daily Telegraph – dizendo que os prédios vieram abaixo porque havia irregularidades nas construções. O especialista de Purdue rejeita o argumento: “O fato é que muitos prédios governamentais, comerciais e outras construções religiosas também violaram regras, mas até aqui a maior parte dos grandes prédios demolidos eram igrejas cristãs. Mais do que isso, não há nenhuma justificativa legal para tirar cruzes de igrejas ou cortar a luz de igrejas à noite. Que tipo de regra as cruzes ou as luzes violaram? O alvo claramente são as igrejas cristãs”.

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Fonte: Veja

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