terça-feira, 7 de agosto de 2012

Desde que eu me entendo por gente Caetano é estranho', diz Bethânia


A irmã do cantor, que completa 70 anos nesta terça (7), falou sobre Caetano Veloso. A mãe dele, Dona Canô, e a atriz Camila Pitanga, também lembraram momentos com o cantor que marcaram sua vida.


Considerado um dos maiores cantores e compositores da Música Popular Brasileira, Caetano Veloso completa nesta terça-feira (07), 70 anos de idade. Criativo e muito talentoso, o cantor coleciona não somente canções de sucesso e relevância na produção musical do país, mas também boas amizades ao longo da vida.
Alguns deles lembram momentos inesquecíveis de sua trajetória. Veja o que Dona Canô e Maria Bethânia, mãe e irmã do artista, respectivamente, dizem sobre ele. Confira também, o depoimento emocionado da atriz Camila Pitanga, sobre a importância da música de Caetano na sua vida.
“Eu não sei falar inglês e naquela época muito menos. Mas aquela música, Jasper, eu não sei se é só sua ou se é uma parceria com alguém. Mas eu nem sabia falar inglês e cantava aquela música, a primeira música em inglês que eu falei na minha vida foi essa. É porque talvez eu tenha memória daquela infância, daquele meu primeiro contato com a música. E eu ouvia e dançava, sempre tive essa coisa de improvisar em casa. São ‘Caetanos’ que se apresentam no repertório dele. Existe o Caetano que canta standards americanos e que canta Nirvana, e que faz uma homenagem a Julieta Massina, e que fala da vida, da maneira mais idílica possível ou que fala da maneira mais contundente e política possível, que canta com Roberto Carlos e louva Roberto Carlos. Eu acho que a beleza dessa plasticidade do Caetano é que é ouro também, que faz a gente ficar na expectativa do que vem por aí. Eu, pelo menos, sempre fico na expectativa de saber que volta ele vai dar na gente, que nova maneira de pensar o mundo ele vai manifestar. Eu acho você muito mais jovem do que eu, sinceramente falando. E eu acho que a sua jovialidade, essa sua característica de se reinventar a cada trabalho, a cada tempo, de se repensar, de mudar de ideia ou de ir fundo em uma ideia, é uma inspiração que a gente tem mais é que agradecer. Sentimento de gratidão, por tudo que você já trouxe de beleza e potência na vida”. Camila Pitanga.

“Cantando? Ele cantou com a idade de 7 anos aqui no teatro que tinha aqui no ginásio. Cantou, cantava muito e ele aprendia tudo. Negócios de música, ele não queria nem saber. Ela já ouvia e estava aprendendo. E ele tocava piano porque os outros aprenderam, ele foi o que mais demorou. Ele cantava e acompanhava a Nicinha, minha filha que Nossa Senhora achou que ela devia ir e levou. Largava tudo, ia para o piano tocar e cantar. Ele só estudava uma vez. Acabou, não tem mais estudo. Aprendia aquilo que tinha de saber para responder e pronto”.
Como foi aquele tempo que ele passou no exílio, Dona Canô? Mas a senhora, como ficou enquanto estava lá?
"Eu não sei por que não fui. Enquanto ele estava lá, eu fiquei resignada, porque eu não podia fazer nada. A polícia era contra tudo, então, ele era uma pessoa isolada. Não tinha quem fizesse nada por ele. O pai alcançou, mas não foi. Foi Rodrigo, o filho mais velho, chegou: ‘Vou ver Caetano’. Foi e voltou e disse: ‘Minha mãe, ele está bem. Só que ele tem que ficar sozinho’. É melhor sozinho do que acompanhado, deixei ele. Depois mudou de posição, saiu de um e foi para outro. Foi uma verdadeira odisséia. Para mim, até hoje, não me esqueço de quando Dona Vani chegou para mim e disse: ‘Caetano está preso’. Não sei o que senti. Eu falava: ‘Zé, o que eu vou fazer?’. ‘Deixa ele, ele está tomando o que merece. Ele não está fazendo graça? Agora ele não faz’. Ele preso, por quê? Ele agora disse: ‘Não tem motivo’, então, como é que ele vai preso? Até o general procurou saber de Caetano. Como o general ficava no palácio, e não sabia porque Caetano tinha sido preso. Nem tinha recebido queixa nenhuma e prenderam ele. Disse: ‘quisera eu saber por que’. Gil também foi preso, na época os dois. Mas ele suportou tudo, porque ele tinha uma natureza muito boa”. Dona Canô.

“Caetano um dia, já em Salvador, estudando no ginásio, ele já no clássico, me chamou e disse: ‘Estou fazendo uma música para um curta-metragem do Alvinho Guimarães sobre um tema de Jorge Amado. E é você quem vai cantar’. Eu falei: ‘Eu?’ e ele falou: ‘É’. E eu falei: ‘Tá’. Não levei grande susto, não era cantora, não esperava. Mas fui lá e fiz. Naquele momento, naquela tarde, nós gravamos em um estúdio, olha que coisa genial, no ateliê de Mário Cravo. Ele tinha um gravador bom. E eu gostei daquilo, e disse: ‘Acho que vou viver assim’. Quando Roberto Carlos e Erasmo abriram a Jovem Guarda, o programa, eu quando vi aquilo - que tinha melodias brasileiríssimas, mas tinha uma guitarra elétrica, e que a nossa tradição era o violão, principalmente nessa geração por causa do João Gilberto, por causa de Caymmi, por causa de Dori, dos grandes violonistas aqui – e eu chamei Caetano e falei: ‘Presta atenção nisso porque o que você compõe é diferente, você devia usar a guitarra elétrica porque combina mais com o que você faz. Tem uma certa diferença’. E Caetano gostou daquilo ali. Desde que eu me entendo por gente Caetano é estranho. Nunca vi um menino ficar sentado de 15h às 18h esperando uma flor que cai uma lágrima às 18h, na idade dele. Estava brincando de bola, ou estava fazendo outra coisa, e ele ficava sentadinho, esperando a lágrima de Vênus cair, chorar, aquela coisa perfumada, meio lírio. A gente brincava de coisas muito fora do normal, tipo faquir. Vamos brincar de faquir, ficar calado, deitado em uma árvore durante muitas horas. Então esse tipo de estranhice, solto, brinca. A gente reclamava de algumas coisas entre nós, a coisa religiosa, uma coisa muito rígida lá dentro de casa. Sexta-feira da Paixão, se cantasse ia para o inferno. Tinham uns terrores. Não meu pai e minha mãe, mas outras pessoas de importância e poder dentro da casa. E a gente olhava assim: ‘Então ta’. E subia e cantava, um pouco de rebeldia. Meu pai e minha mãe nos criaram com muita admiração, observando, permitindo, compreendendo. Me lembro de Caetano passar tardes desenhando no passeio da rua, na frente da casa, com carvão, pessoas que passavam. Era excelente retratista, tem muitos quadros. Meu pai dava tudo: telas, tintas, para estimular. Isso é bacana, acho que isso deu uma força a ele, é normal para ele ser diferente, ser tão vário. Como olhar a Pedra da Gávea, ter tempo para olhar o mar, respirar. Quero que ele seja feliz, ele estando feliz está bom”. Maria Bethânia.
Fonte: G 1 BA

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