sábado, 28 de julho de 2012

Judô supera a vela em dia histórico e consagra dupla de novos heróis nacionais



O primeiro dia dos Jogos Olímpicos de Londres foi especial para o judô brasileiro. A medalha de ouro de Sarah Menezes e o bronze de Felipe Kitadai colocaram o esporte em um novo patamar: o de modalidade que mais deu medalhas ao Brasil em olimpíadas. 

Com os dois pódios deste sábado, o Brasil soma 17 medalhas na história da competição; a vela, que terá o início de sua disputa no domingo, em Weymouth, tem 16. A medalha de Sarah foi a primeira de ouro de uma brasileira no judô olímpico, apenas a segunda em esportes individuais. 

Reuters
Judoca Sarah Menezes beija a medalha de ouro, a primeira do Brasil em Londres
Judoca Sarah Menezes beija a medalha de ouro, a primeira do Brasil em Londres

Incluídas também as disputas do masculino, o Brasil não conquistava um ouro no judô havia 20 anos. Desde Rogério Sampaio, em Barcelona, um atleta do país não subia ao topo do pódio. Antes, apenas Aurélio Miguel havia conquistado o ouro. Desde 1984, o judô conquista pelo menos uma medalha.
Mas a história não é contada apenas pelos números; no caso deste sábado, menos ainda. 

Nascida em Teresina, no Piauí, Sarah Menezes é um exemplo de perseverança. Para chegar ao topo do pódio em Londres, ela não superou apenas as cinco rivais que teve de enfrentar neste sábado. Por mais que as vitórias sobre Van Ngoc Tu, Laetitia Payet, Wu Shugen, Charline van Snick e Alicia Dumitru tenham sido especiais, as maiores conquistas da judoca aconteceram antes.

Sarah sempre fez questão de treinar em Teresina, sua terra natal. Ao lado do técnico Expedito Falcão, montou uma estrutura que lhe permitisse ficar no estado, um dos mais pobres do Brasil. É lá que ela se prepara para, cada vez mais, conquistar títulos e medalhas nas maiores competições do mundo. É para lá que ela quer voltar dando um exemplo anda maior para seus conterrâneos.

“Acho que agora as pessoas vão me ver com outros olhos. Vou ser, mais ainda, um fenômeno da cidade”, diz Sarah, que espera transformar a notoriedade em melhores condições de treino. “As coisas não são fáceis. A gente não passa fome, mas é preciso ajudar as pessoas que treinam comigo, também. Não adianta ser só a Sarah, tem que ajudar todo mundo.”

Sarah Menezes é assim. Tem uma generosidade tamanha que pode ser representada em uma cena: um jornalista, em tom de brincadeira, perguntou se poderia pegar a medalha emprestada por 24 horas. “Pode, com certeza”, respondeu a nova medalhista de ouro do Brasil.

Sangue, lágrimas e bronze – Felipe Kitadai será lembrado, a partir deste sábado, como o atleta que deu ao Brasil a primeira medalha nos Jogos Olímpicos de Londres. Até este sábado, no entanto, ele era famoso por uma cena insólita no Pan de Guadalajara, em 2011. Na ocasião, fez tanta força durante uma luta que sujou o quimono com uma mancha que ficou famosa; na época, ele mesmo fez piada. 

Neste sábado, as manchas no quimono de Kitadai eram outras: um pequeno corte no nariz, entre os olhos, fez com que pequenas gotas de sangue caíssem na vestimenta do judoca. Um dente também sofreu as consequências da maratona de cinco lutas e acabou trincando. Nada que preocupasse o judoca, que não segurou a emoção.

Chorando muito, Kitadai lembrou-se de outro grande atleta da modalidade. João Derly, bicampeão mundial em 2005 e 2007, foi uma das inspirações do novo medalhista olímpico brasileiro. “O João foi como um pai para mim, até chamo ele de pai. Foi ele que me levou para treinar em Porto Alegre, na Sogipa. Morei três meses na casa dele”, disse.

Em 2007, antes do Mundial do Rio, Kitadai foi sparing de Derly nos treinamentos. Neste sábado, cinco anos depois, o agora ex-judoca foi um dos primeiros a parabenizar o amigo. “Ele me ligou aqui, foi rápido, ele queria me dar os parabéns”, afirmou.

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