Arara-azul-de-Lear está ameaçada de extinção, mas tem abrigo e proteção na Caatinga. E costumam atacar plantações pela falta do alimento preferido.
Em um novo dia nos sertões do São Francisco, a paisagem seca vai ganhando cores e as aves começam a cruzar o céu ao amanhecer. Duas, três, dezenas de aves coloridas voam em bandos. Barulhentas e famintas, partem em busca de comida.
A arara-azul-de-Lear ainda está ameaçada de extinção, mas no meio da Caatinga tem abrigo e proteção. Elas estão se reproduzindo em liberdade.
Caboclo, homem da terra, há 35 anos é um guardião dessas aves. Quando ele começou o trabalho de preservação, só com muita sorte se conseguia ver uma arara na região.
“Tinha pouco mais de 40 bichos, indivíduo, hoje, nós temos um censo recente que ficou em torno de 1,3 mil bichos”, conta Eurivaldo Macedo Alves, guarda-parque.
A toca velha, no município de Canudos, na Bahia, é um dos lugares onde as araras passam a noite. Elas dormem em buracos no meio dos paredões. Quando amanhece, é hora de debandada. Elas invadem as roças dos pequenos agricultores.
“Não adianta você ter uma população grande de indivíduo se você não tem alimento, você vai gerar um desequilíbrio e possivelmente esse desequilíbrio vai atingir a população inteira, que é a fome”, diz Eurivaldo.
Dona Aurenice de Miranda e o marido vivem em uma casa típica do Sertão do Nordeste, em uma área onde não chegou ainda a energia elétrica. O fogão a lenha na porta da casa, a galinha chocando em um canto, as paredes de barro e ao redor da casa, a plantação de milho e de palma. E uma concorrência grande com as araras, que comem o milho, e as onças, que comem a criação de bodes e ovelhas.
As araras ficam esperando e, quando sentem que não há perigo, partem para o ataque. E saem carregando as espigas.
O marido da lavradora Aurenice de Miranda usa um saco plástico como arma para afastar as araras.
“Com um saco, elas têm medo do saco, né? Elas voam, vêm de novo, a gente vai de novo. São muitas araras. Muitas, muitas mesmo”, conta o lavrador João Nascimento.
Boa parte dos pés de milho está no chão. É uma terra arrasada.
Globo Repórter: Mesmo assim não matou as araras?
João Nascimento: Não. Deus me livre. É crime. Não pode.
As araras só estão atacando as plantações porque o alimento preferido delas está ficando raro na Caatinga: “O licuri, o alimento preponderante e insubstituível da arara azul. A arara parte com o bico e come a polpa de dentro, porque ao mesmo tempo está recebendo a polpa e um pouco de água”, explica o fazendeiro Otávio Farias.
“O ideal seria o plantio do licuri. O que a gente acha que é o básico é o licuri, porque se a gente tiver o licuri aqui próximo, esse bicho não precisa se deslocar tanto para buscar alimento, vão comer por aqui”, diz Eurivaldo Macedo Alves, guarda-parque.
Enquanto não há os coquinhos para todas, o jeito é improvisar. O fazendeiro amarra espigas de milho nas árvores. E todos os dias oferece uma refeição completa para as araras-azuis-de-Lear.
“Eu não posso dizer que com isso eu estou defendendo 100% as araras azuis, mas pelo menos eu estou mantendo um grupo grande para que elas não vão atacar os milharais e que não sofram as consequências desses ataques”, diz o fazendeiro Otávio Farias.
Fonte: G 1 .com
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