sábado, 11 de março de 2017

Mania de se vestir e se comportar como uma sereia, o sereísmo chega à novela das nove



Protagonista de “Força do Querer”, a atriz Isis Valverde encarna a personagem inspirada numa sereia de verdade, a profissional Mirella, que acredita ter parentesco com esses seres mitológicos
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Isis Valverde como a personagem Ritinha (Foto: Reprodução/Instagram)

Dominar a arte de seduzir, movimentar-se na água com destreza, adotar um estilo de vida supernatural, tudo isso, usando um inusitado rabo de peixe preso à cintura, fazem parte de uma nova onda batizada de sereísmo. Encarado por suas adeptas como uma filosofia de vida, o modismo tende a crescer com a estreia da novela das nove, “A Força do Querer”, em abril, que terá como protagonista Ritinha, uma mulher que pensa ser uma sereia, interpretada pela atriz Isis Valverde.

“Ela acredita na mãe-d’água e também que é filha de um homem-boto”, contou Isis à Marie Claire. “É uma menina que tem uma forte conexão com a natureza e os bichos”, revela a atriz. Para viver a personagem, Isis mudou o visual, a começar por seus cabelos, que ganharam um aplique enorme: “É pesado demais. Estou me acostumando aos poucos com essa cabeleira”, diz ela, aos risos. “Mas tirando o trabalho que dá cuidar deles, estou gostando muito.” Outros elementos do universo desse ser mitológico foram transformados num estilo de vida bem “hippie”, segundo Isis. “Amo usar colar e brincos de conchinha.”

Para se adaptar aos movimentos na água com a cauda de peixe, Isis teve aulas com Mirella Ferraz, de 34 anos, que é uma profissional do sereísmo. Ela trabalha exclusivamente como sereia em aquários e como convidada de eventos e festas. “Não é apenas uma moda, mas um estilo de vida com paixões, dogmas e conceitos”, diz Mirella. “Verdadeiras sereias têm uma ligação com a água e o mar e defendem a preservação do meio ambiente. Não dá para jogar lixo na praia e dizer que pratica o sereísmo”, afirma.
A sereia profissional Mirella Ferraz (Foto: Reprodução/Instagram)

A modelo Yasmin Brunet, umas das famosas que divulga a “vida de sereia” nas redes sociais, concorda: “Ser uma sereia é ser uma pessoa que se importa com a natureza e com os animais”, diz a carioca.

Tanto a sereia profissional quanto Yasmin são vegetarianas. Isis, por sua vez, não come carne vermelha nem frango. Mas deixar de ser carnívoro não é um pré-requisito: “Não há regras, mas, sim, paixões”, explica Mirella, que deixou de comer carne aos 8 anos. “Defendia formigas, grilos… Para mim, animais não são comida.”

INSPIRAÇÃO
Nascida em Pirassununga, no interior de São Paulo, Mirella foi uma das inspirações de Isis para dar vida à Ritinha. “Passei bastante tempo com a Mirella para entender por que ela tem essa ligação com as águas”, conta a atriz. “Ela [Mirella] é uma pessoa pura e do bem. Gosta de coisas simples, vibra ao ir à praia e não precisa de muita coisa para ser feliz - algo raro hoje em dia. A Ritinha tem o perfil parecido.”

Mirella conta que, desde criança, tem fixação por sereias. “Minha mãe jura de pés juntos que essa foi a primeira palavra que eu falei”, conta ela. “Quando eu era pequena, lembro de acordar à noite chorando porque eu tinha pernas, e não uma cauda. Nasci com essa ligação com a água. Tento mergulhar todo dia, mesmo quando chove ou faz frio. Quando não consigo, fico péssima.”

ONDE ELA MORA? ONDE MERGULHA?
Formada em gestão ambiental com ênfase em biologia marinha, Mirella fez inúmeras tentativas de ter uma cauda falsa - todas frustradas. “Tentei construir uma juntando várias chapas de raio-X, que seriam as barbatanas”, lembra, rindo. “Um dia, fui numa funilaria porque queria usar um para-choque, e os mecânicos me mandaram embora, dizendo que eu era louca. Também fui a uma borracharia para pegar raspas de pneu. Nada funcionou.” Ela finalmente conseguiu a cauda, com materiais como neoprene. “Foi uma realização: me senti completa.”
Aos 34 anos, Mirella Ferraz vive de ser uma sereia profissional (Foto: Reprodução/Instagram)



Com sua cauda, Mirella passou a postar fotos e vídeos em redes sociais. Até que chamou a atenção do programa “Fantástico”, que a convidou para participar de uma reportagem no Aquário de São Paulo. “Nadei no tanque com os tubarões. Como eu já era mergulhadora, fui muito bem. Os funcionários do aquário ficaram impressionados e os visitantes assistiram maravilhados”, lembra ela. “Logo depois, eles me procuraram propondo uma parceria. Fiquei em choque! Era como se estivesse num conto de fadas. Depois disso, outros aquários passaram a me contratar, além de eventos como festas. Também lancei livros e montei um ateliê de caudas.”

Para ficar debaixo d’água usando a cauda, que pesa cerca de 40 kg quilos, Mirella tem que cuidar do corpo. Além de ser mergulhadora, ela faz ioga, pratica apneia e corrida para ganhar resistência.

Isis Valverde, por sua vez, teve três meses para se preparar. “Primeiro fiz ioga, para conseguir ter calma na água e bastante força abdominal. Depois, comecei a apneia com o Ricardo Bahia [que entrou para o Guiness Book por ficar mais de 8 minutos sob e água] e mergulho com o Paulo Boneschi. Foi um treino passo-a-passo, com caudas diferentes para aos poucos chegar nas mais pesadas [de até 30 kg]”, descreve a atriz.

Além disso, Isis também tem de cuidar da alimentação. “Sou bem rigorosa porque alguns alimentos são restritos por conta da profundidade, do peso e do esforço físico que tenho de fazer embaixo d’água sem respirar”, afirma a atriz.



Isis Valverde durante gravação de A Força do Querer (Foto: Globo/Renan Castelo Branco)

SEREIA FASHION
O fascínio pela personagem é algo que vira e mexe vem à tona. Em 2011, a grife de lingerie Victoria’s Secret realizou um desfile dedicado ao tema que trouxe a atriz Miranda Kerr carregando uma concha nas costas no lugar das famosas asas de angel. No mesmo ano, na apresentação de sua coleção para o verão 2012, a Chanel reproduziu o fundo do mar na passarela e colocou a inglesa Florence Welsh cantando dentro de uma concha gigante, além de ter aplicado elementos marítimos em suas bolsas, que se tonaram it-bags instantâneas. Em 2015, foi a vez da Burberrymostrar saias que pareciam feitas de escamas em sua coleção resort.

Na indústria da beleza, O Boticário criou a coleção Sereias Urbanas, em 2014. A M.A.C. lançou uma linha batizada de Alluring Aquatic, com embalagens inspiradas no fundo do mar; e a CoverGirl anuncia uma collab com a cantora Katy Perry que traz makes inspiradoss em sereias.
Florence Welch se apresentou dentro de uma concha gigante no desfile de primavera-verão 2012 da Chanel (Foto: Getty Images)

O MITO DA SEREIA E SEU RETORNO
O mito da sereia como uma mulher meio peixe meio humana começou na Idade Média (do século XV ao XIX), com o início das navegações. “É quando os homens descobrem os perigos que vêm do mar, um ambiente cheio de mistério e seres que são encontrados não só nos continentes descobertos como também na própria viagem dos navegadores”, explica Lídice Meyer, professora de Ciência da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. “Um dos seres que se imagina que tenha dado origem à essa mitologia da sereia é o peixe-boi. Ele é diferente, pois é pulmonado e precisa vir à superfície para respirar. Ao ver o animal, os navegadores o imaginavam meio humano meio peixe e criavam seres fantásticos e sobrenaturais.”

Nessa época, a sereia era vista como uma criatura bonita, sensual e perigosa, pois enfeitiçava, encantava e levava os homens a se jogarem no mar atrás delas e morrerem afogados. Após o século XIX, ela passa a ser retratada como uma personagem vaidosa, sempre segurando um espelho e um pente. Segundo a especialista, atualmente ela passou a ser considerada também uma protetora dos mares, o que explica seu retorno em tempos de preocupação em preservar o meio ambiente.
Miranda Kerr no desfile da Victoria`s Secret, em 2011, com uma concha gigante no lugar de asas (Foto: Getty Images)


Lídice acredita também que o sereísmo está em alta porque a obsessão por magia é recorrente ao ser humano. “Precisamos de um pouco de fantasia. O mundo de hoje é muito triste em alguns aspectos. Há o desemprego, a poluição está aumentando cada vez mais e há um descontentamento com as questões políticas”, acredita. “Essa atmosfera de magia gera um universo paralelo, em que há possibilidade de se desvencilhar de toda essa situação pessimista e criar um mundo mais otimista.”

Para ela, a nova geração de sereias busca um estilo de vida alternativo. “Elas se colocam como protetoras do meio ambiente e se alimentam de uma maneira mais saudável.”

Para Mirella, no entanto, as sereias são muito mais que um mito: “Tenho certeza absoluta de que elas existem”, afirma. “Não sei explicar minha vida sem acreditar que fui parente delas em outra encarnação [risos]. Os mares são pouco explorados. Ninguém sabe o tem lá embaixo.”

E ela, já viu uma sereia?: “Tive muitas experiências fantásticas e sobrenaturais. Já vi algumas coisas no mar, mas não posso afirmar se eram sereias. Mas, quando me perguntam, brinco e digo: ‘Vejo todos os dias quando me olho no espelho’”.

Fonte: LIFESTYLE

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