Uma interessante oportunidade pelo
aspecto profissional, mas problemática pelas restrições pessoais e pela
falta de liberdade. É assim que médicos cubanos ouvidos pelo ‘Globo’
descrevem a experiência que tiveram ao participar de programas de
exportação de profissionais de saúde de Cuba para outros países.
Enviado para trabalhar no interior do
Brasil na década de 1990, como parte de um convênio entre o governo de
um estado brasileiro e Cuba, o médico “X”, que prefere se manter
anônimo, conta que os cubanos selecionados não podiam se recusar a
viajar sem que sofressem sanções. “Se recusasse, era considerado quase
um contrarrevolucionário, o que lhe provocava uma série de dificuldades
profissionais e pessoais. Acabava sobrando até para a família dele, que
passava a ser hostilizada”.
O profissional também critica a pouca
remuneração. Segundo ele, ficava apenas com cerca de US$ 300 de um total
de US$ 1.800. Ainda segundo o médico, quem recebia o dinheiro era a
embaixada cubana, que repassava uma “parte” do valor para os
profissionais. “Quando sobrava um pouco, enviávamos de volta para a
família em Cuba. Era muito pouco pela quantidade de trabalho”, disse.
Antes do fim dos dois anos do programa,
“X” desertou e fugiu. Depois, homologou seu diploma de Medicina no
Brasil, e hoje atua no país. Porém, o governo de Cuba não permite o
retorno dele ao seu país.
Enviada para a Bolívia há cerca de seis
anos, a médica cubana “Y” conta que trabalhou por um ano e meio antes de
desertar. Ela diz que recebia cerca de US$ 300 “de bolsa” para se
sustentar na Bolívia. Quanto ao seu salário real, o governo cubano
depositava cerca de 30% dele numa conta à qual ela só teria acesso ao
fim do programa. Como saiu antes, não recebeu o dinheiro.
“Comparado com a média do que o médico ganha em Cuba, US$ 27 por mês, a oportunidade parece boa, mesmo com as ressalvas”.
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Fonte: O Globo
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