quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Júri de mulher de executivo da Friboi será retomado nesta quarta-feira
Filho da vítima deverá ser ouvido como principal testemunha de acusação.
Julgamento recomeça às 10h no Fórum Criminal da Barra Funda.
O depoimento de Carlos Eduardo Campos Magalhães, como testemunha de acusação, é o principal destaque desta quarta-feira (25), segundo dia de julgamento de Giselma Carmen Campos, acusada de mandar matar o marido Humberto de Campos Magalhães, diretor-executivo da Friboi. Carlos Eduardo é filho de Giselma e Humberto. O crime ocorreu em dezembro de 2008.
O segundo dia de júri está previsto para começar às 10h, no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste da capital. Antes do depoimento de Carlos Eduardo, o policial civil Ricardo Canuto Scabar deverá ser ouvido no plenário, também como testemunha de acusação. Além de Giselma Carmen Campos, o irmão dela, Kairon Vaufer Alves, também está sendo julgado pelo assassinato de Humberto.
Ao chegar ao fórum para acompanhar o júri nesta terça-feira (24), Carlos Eduardo disse que sua motivação ao acusar a própria mãe não é o dinheiro deixado pelo pai. "Hoje (terça-feira) eu estou aqui para defender a memória do meu pai e lutar pelo que eu acredito”, disse.
No primeiro dia, outras três testemunhas de acusação foram ouvidas pelo júri. A veterinária Adriana Ferreira Domingos, que vivia com o diretor-executivo da Friboi Humberto de Campos Magalhães na época do assassinato, foi a terceira e última a depor. Ela relatou as ameaças da ex-mulher da vítima, Giselma Carmen Campos.
“Ela ligava no meu celular e falava um monte de coisas, xingava, dizia um monte de barbaridades, me ameaçava, ligou inclusive no meu trabalho. Falou que eu não ficaria com ele e que faria o possível para que isso acontecesse”, afirmou.
Quero ver na cadeia quem fez isso com ele. Eu não tenho ódio nenhum dela. É uma coitada. Mandou matar o pai dos filhos"
Adriana Ferreira Domingos
A veterinária contou aos jurados que os dois iniciaram o relacionamento em dezembro de 2007, quando Magalhães já estava separado da ex-mulher, e passaram a morar juntos emSão Paulo em fevereiro de 2008. Adriana disse que nunca temeu Giselma, apesar das ameaças. “Nunca tive medo porque nunca fiz nada contra ela. Tanto que não revidava as ameaças”, contou durante o julgamento.
Ela disse que “só quer Justiça”. “Eu quero Justiça também por causa da família dele. A mãe está sofrendo, não é fácil sair de Campo Grande e vir para cá, mas eu vou fazer Justiça. Quero ver na cadeia quem fez isso com ele. Eu não tenho ódio nenhum dela. É uma coitada. Mandou matar o pai dos filhos dela”, afirmou.
Antes dela, prestou depoimento o delegado Rodolpho Chiarelli Júnior, que investigou o assassinato. Ele disse não ter dúvidas que Giselma planejou o crime. “Eu afirmo e reafirmo que ela é a mentora intelectual desse crime e é uma afronta para mim ela estar solta”, afirmou o policial, que trabalhava no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O delegado afirmou que o crime só foi cometido “devido ao patrocínio” da ré. Ele ressaltou que o irmão da acusada, Kairon, não conhecia a vítima e não tinha motivos para cometer o assassinato.
Ainda de acordo com Chiarelli, todos os acusados de envolvimento no assassinato – além dos irmãos, outros dois suspeitos foram presos - sabiam que foi a ex-mulher quem planejou a morte do empresário. Inicialmente, o valor fixado era de R$ 15 mil, mas passou para R$ 30 mil, segundo o delegado. Os acusados dizem, no entanto, que a ré não efetuou todo o pagamento.
Segundo o delegado, Kairon e Giselma estiveram juntos antes e depois do crime, na data em que o assassinato foi cometido. Além disso, Kairon teria confessado durante depoimento que depois do assassinato foi até Alphaville, na Grande São Paulo, local onde a irmã residia, pegar o dinheiro prometido. O delegado ainda afirma que a mãe reagiu com indiferença ao saber que o filho era suspeito do crime e que não esboçou nenhuma reação.
Para o promotor José Carlos Cosenzo, o primeiro dia de júri foi bastante favorável à acusação. "Foi excelente em termos de provas técnicas, rigorosamente técnicas. Até porque o mais importante dentro de um processo e dentro de um projeto que você traz, fazendo a sustentação em plenário, é juntar a prova técnica naquela prova fática. O que é que eu consegui? Vocês vão ver posteriormente que todas essas provas técnicas estão rigorosamente estabelecidas no interrogatório do Kairon. Ou seja, o que ele disse depois nada mais fez do que referendar tudo aquilo que a polícia colheu", afirmou Cosenzo.
A ré, que responde pelo crime em liberdade, e o defensores dela e do irmão deixaram o fórum na noite desta terça-feira sem falar com a imprensa.
Julgamento
O júri dos acusados começou por volta das 11h20. Segundo o Ministério Público, o irmão de Giselma, Kairon, contratou os dois assassinos que mataram Humberto em 4 de dezembro de 2008, em uma rua na Zona Oeste da capital paulista.
Sete jurados - quatro mulheres e três homens - irão definir se Giselma e Kairon são culpados ou inocentes. O júri deve durar pelo menos dois dias, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo. Os dois pistoleiros contratados já foram condenados a 20 anos de prisão cada.
Para Carlos Eduardo, é falsa a versão dos réus, que alegam que o próprio Kairon matou o executivo enquanto tentava cobrar uma dívida de drogas. “[Giselma] está dizendo isso porque ele já está condenado a 18 anos de prisão por tráfico”, disse o filho. O estudante acredita que haja um acordo para que o tio assuma a culpa no lugar da mãe.
Ao chegar para o julgamento, Giselma se negou a falar sobre o fato de ser acusada pelo filho.
Relação conturbada
O jovem admitiu que a relação com a mãe sempre foi conturbada. "Minha relação com ela sempre foi muito difícil porque o único interesse dela foi sempre perseguir meu pai, chantagear pessoas e tudo o que não fizesse parte disso, para ela não funciona”, disse.
Ademar Gomes, advogado de Giselma, nega a participação dela no crime. Segundo ele, Humberto Magalhães foi morto por causa de uma suposta dívida de R$ 5 mil. Para Gomes, a acusação de Carlos Eduardo é "sem fundamento".
“Existe uma herança em jogo. A pessoa que acusa [o filho] é uma pessoa egoísta, demonstra interesses financeiros, interesse que ela perca 50% da parte dela para que ele fique com os outros 25%”, disse Ademar. Ainda segundo o advogado da ré, Kairon foi torturado em uma delegacia para acusar a irmã. “O tio é realmente o único assassino”, disse o advogado.
A defensora de Kairon, Vitória Nogueira, nega que seu cliente tenha matado o ex-cunhado por ordem de Giselma e admite que ele atirou sem intenção de matar. “Desde que ele foi ouvido pela primeira vez, ele alega que a responsabilidade era só dele, que ele não contratou ninguém, que o Humberto tinha uma dívida com ele, que ele não pretendia matá-lo, apenas assustá-lo”.
Para o promotor José Carlos Consenzo, Giselma mandou matar o ex porque não aceitava a separação. “Ela não queria perder o status, perder o patrimônio e perdê-lo para outra mulher”. Ele nega que a vítima usasse drogas. Segundo ele, o exame toxicológico feito após o crime comprovou que Humberto não havia consumido nem álcool nem qualquer outra droga.
Primeiro depoimento
O júri começou no fim da manhã desta terça e a primeira testemunha ouvida foi chamada pela acusação. Durante 40 minutos, um morador da Rua Alfenas, na Vila Leopoldina, onde o crime ocorreu, falou sobre o que viu.
A testemunha contou que o executivou bateu na porta de sua casa procurando pelo filho. Magalhães tinha recebido uma ligação que falava que seu filho mais novo havia passado mal e estava naquela rua. De acordo com a testemunha, após informar que não sabia do garoto, o executivo voltou para o carro e foi executado por um motoboy. Por causa da iluminação ruim, o morador diz que não seria capaz de reconhecer o assassino.
Motivações do assassinato
Humberto Magalhães, que tinha 43 anos, e Giselma tiveram dois filhos e ficaram casados por 20 anos. As brigas constantes levaram do relacionamento de 20 anos. Ele saiu de casa no fim de 2007 e namorou outras mulheres.
Segundo a polícia, depois da separação, Giselma passou a planejar o assassinato do ex-marido. O celular do filho mais velho do executivo foi usado no crime: a acusação diz que Giselma entregou o telefone a um pistoleiro.
O assassino ligou para o executivo dizendo que o filho dele estava passando mal, no meio da Rua Alfenas, na Vila Leopoldina. Humberto foi até o local e bateu de casa em casa, à procura de notícias do filho. Quando entrou no carro, um motoqueiro se aproximou e, depois de uma rápida discussão, efetuou dois tiros.
O celular do filho de Humberto foi encontrado na casa de Kairon, irmão de Giselma, no Maranhão. Segundo a polícia, Kairon contratou dois pistoleiros na Cracolândia, região central de São Paulo. Segundo o Ministério Público, Giselma pagou ao irmão e aos assassinos R$ 34 mil.
Chip levou à quadrilha
Durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão na casa de Giselma, ela tentou jogar um chip de telefone na privada, que foi recuperado por uma investigadora. A partir dele, os investigadores rastrearam uma rede de ligações telefônicas e identificaram a quadrilha responsável pela morte de Humberto Magalhães.
Segundo a Promotoria, Giselma contratou Kairon, que é ex-presidiário. Kairon contratou Osmar que era uma pessoa que trabalhava como segurança. E Osmar contratou Paulo, apontado como executor.
No primeiro momento, Giselma negou conhecer Kairon. Mas, ao comparar os documentos dos dois, a polícia teve uma surpresa. “Foi verificado que eles eram irmãos. De pais diferentes, mas era a mesma mãe”, disse o promotor José Carlos Cosenzo.
Descoberta, Giselma tentou incriminar o próprio filho. A polícia chegou a suspeitar do filho do empresário, mas o rastreamento do aparelho celular dele levou à prisão de Kairon, que entregou todo o esquema.
Giselma ficou presa preventivamente por um ano e seis meses. A decisão pela soltura dela foi do Supremo Tribunal Federal (STF), após um pedido de habeas corpus impetrado pelo advogado da ré, Ademar Gomes. Os dois homens contratados para matar o empresário já foram condenados a 20 anos de cadeia cada um.
Fonte: G 1
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