Filme dirigido por Kleber
Mendonça, diretor que polemizou com a Globo Filmes, representará o
Brasil para concorrer a uma vaga entre os que disputarão prêmio de filme
estrangeiro
por Xandra Stefanel, especial para RBA
publicado
20/09/2013 18:58
São Paulo – O filme O Som ao Redor
representará o Brasil na disputa por uma vaga ao prêmio de melhor filme
estrangeiro no Oscar 2014. A escolha foi anunciada pelo secretário do
Audiovisual do Ministério da Cultura, Leopoldo Nunes, nesta sexta-feira
(20), em Brasília. O longa é dirigido pelo cineasta pernambucano Kleber
Mendonça Filho, que no início do ano protagonizou uma polêmica com o
executivo da Globo Filmes Cadu Rodrigues, em torno da dissociação entre a
qualidade da produção cinematográfica brasileira e sua bilheteria.
Na ocasião, Kleber havia dito em entrevista que a principal
distribuidora de filmes do país, vinculada às Organizações Globo, não
privilegia a qualidade do cinema nacional, mas as possibilidades
comerciais das produções. “Se o vizinho lançar o vídeo do churrasco dele
no esquema da Globo Filmes, fará 200 mil espectadores no primeiro final
de semana”, disse ao jornal Folha de S.Paulo. Cadu Rodrigues respondeu
ao cineasta provocando-o atingir 200 mil expectadores com apoio da Globo
Filmes e o pernambucano treplicou, em cartas aberta: “O sistema Globo
Filmes faz mal à idéia de cultura no Brasil, atrofia o conceito de
diversidade no cinema brasileiro e adestra um público cada vez mais
dopado para reagir a um cinema institucional e morto”.
A Comissão Especial de Seleção elegeu O Som ao Redor em um processo que tinha ainda outros 13 longas em disputa: Cine
Holliúdy, Colegas, Cores, Elena, Faroeste Caboclo, Gonzaga de Pai para
Filho, Meu Pé de Laranja Lima, O Dia que durou 21 Anos, O que se move, O
Tempo e o Vento, Porto dos Mortos, Uma História de Amor e Fúria e Xico Stockinger.
Essa é apenas a primeira “triagem”, ou seja, o filme foi selecionado
para concorrer com outros 70 filmes do mundo todo. Apensa cinco
finalistas serão anunciados no início de 2014 para a disputa final do
Oscar.
O longa de Kleber Mendonça, seu primeiro, retrata a vida numa rua de
classe média do Recife que toma um rumo inesperado após a chegada de uma
milícia que oferece a paz de espírito da segurança particular. Ao
mesmo tempo que os mais ricos passam a ter mais tranquilidade, outros
começam a sentir um clima de ameaça. Dois lados da mesma moeda. Extratos
sociais não muito distantes, mas distintos.
Assim como o documentário Doméstica, de Gabriel Mascaro, a ficção O Som ao Redor mostra o medo e a opressão da classe média, ainda tão carregada do clima de Casa Grande & Senzala.
Além da violência física, o filme de Kleber expõe uma violência
não-verbal que todos fingem não ver: é uma crônica sobre a paranoia da
classe média (e, por que não, alta) e a opressão social que se reflete
na urbanização, na arquitetura, na sensação de (in)segurança.
Fonte: Rede Brasil Atual
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